segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mané Garrincha ou Nacional de Brasília


Oscar agredido no Mané Garrincha (não o craque do Chelsea, mas o arquiteto)


Você sabe o nome de pelo menos um arquiteto dos novos estádios já prontos ou em construção no Brasil? Não se sinta mal, nem mesmo eu, mergulhado até a cabeça no assunto, sei dizer mais que um ou dois. A culpa não é nossa. A arquitetura ocupa um papel secundário no projeto brasileiro de receber a Copa do Mundo. Mas isso não é novidade para os arquitetos. A arquitetura e o urbanismo, infelizmente, são meros supérfluos na cabeça de nossas autoridades. Sempre. Odebrecht é um sobrenome bem mais famoso que Mendes da Rocha. E assim vamos nos estragando.

Oxalá fosse diferente. Os arquitetos tinham que ser nomes e rostos reconhecíveis da opinião pública. Artistas, autores. A escolha do projeto de cada estádio deveria ter sido resultado de concursos — abertos ou fechados, com escritórios convidados, fruto de reflexões sofisticadas sobre a funcionalidade das arenas e o impacto das obras em seus entornos.  Mas pauta-se pela arbitrariedade e beneficia gente escolhida sabe-se lá por que tipo de relação sustenta com governos e CBF.

Volto de Brasília, onde assisti a Brasil 3 x 0 Japão, com 288 pulgas atrás da orelha. É esse o número de colunas de concreto que definem a leitura do novo Mané Garrincha por quem visita a cidade. O projeto é do escritório de Eduardo Castro Mello, filho de Ícaro, também arquiteto e criador do antigo Mané Garrincha. O mais caro dos estádios novos (1,2 bilhão de reais) me agradou por dentro, me aborreceu por fora. E isso é absolutamente pessoal. Sempre há quem goste.

O Mané funciona no que creio ser a contribuição das novas arenas: o enorme salto de qualidade na experiência de se assistir futebol. Me emocionei lá dentro. Mas, antes, na caminhada desde o hotel, me aborreci no que diz respeito a sua relação com a cidade. Ele é feio, pesado, não traz, no meu olhar de visitante, conversa nem confronto relevantes com as ideias de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Eva Pimenta tem 63 anos e mora há 48 na capital federal. Não vou dizer o quanto ama a cidade, basta contar que tem tatuado nas costas o desenho do plano piloto. Ela está louca da vida com o novo Mané. “Brasília tem a leveza do concreto. Aquilo é um troço pesado que caiu e ficou enterrado, um bolão de noiva. Estou acostumada a olhar aquela amplidão, 360 graus de céu, e não me acostumo em ver aquela coisa”, me disse. Entendo a Eva. Olhando o Mané pela perspectiva da Esplanada, dá uma enorme vontade de dar-lhe um peteleco para bem longe.

Por Maurício Barros, de Brasília


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jorge Luiz estreia no comando do "Manhã da Muriaé"

O experiente Jorge Luiz é o novo comunicador das manhãs da Muriaé O dia 5 de março de 2018 estrou para a história do rádio na região. ...